terça-feira, 17 de março de 2009

Prazer pela metade


Não consegui descobrir a autoria do texto (mas poderia ser de qualquer mulher)

Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa, contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido. Uma só.
Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa. Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.
O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.
A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade. A gente sai pra jantar, mas come pouco. Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.
Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de "fácil").
Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta. Quer beijar loucamente aquele cara gostoso, mas tem medo de fazer papel ridículo.
Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar. E por aí vai.
Tantos deveres, tanta preocupação em "acertar", tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...
Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão... Às vezes dá vontade de fazer tudo "errado". Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.
Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções.
Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.
Um dia a gente cria juízo. Um dia. Não tem que ser agora.
Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de chocolate, um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order', uma caixa de trufas bem macias e um homem gostoso, nu, embrulhado pra presente. OK ? Não necessariamente nessa ordem.
Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago.


CARPE DIEM

7 comentários:

Anônimo disse...

LINDO. VIVER A VIDA INTENSAMENTE, DAR DE GRACA E RECEBER DE GRACA... E O RESTO EH RESTO...

Anônimo disse...

Lindo texto.
Concordo com tudo que "a tal mulher" escreveu.
Não gosto de nada pela metade. Tem que vir por inteiro, tem que ser por inteiro.
Na balada: você fica paquerando horas um certo alguém, olhares, sorrisos e uma piscadinha (estilo Laurinha de ser), vira o corpo dançando e quando menos espera, tá lá o alguém "se agarrando" com outra pessoa.
Deu pra enteder o que quero dizer? .. pois bem, aconteceu comigo ontem. Ou ri, ou parte pra outra. (no meu caso, outro).

beijocas e um pedaço de frango.(com salada, pra ficar melhor)

Rosana Tibúrcio disse...

E é por isso que não gosto de gente certinha... ecAAA!!

Laura Reis disse...

gente... minha irmã é uma safada e me cita no meio do negocio, ainda.

aqui, adorei isso.
vou pedir pro garçom essas porções também,

Anônimo disse...

eu faço isso uma vez por semana, mas nas devidas proporções!! saio pra onde eu quiser, ou como o que me der vontade, sem pensar se é fácil, difícil, se pode, se devo... sá faço, pelo puro prazer de fazer! E digo mais, meus amigos chama isso de auto-amor! O fato de você pegar o caminho mais longo só por ter uma vista mais bonita, gastar um dinheirinho a mais, mas comer aquele prato que te deixa com água na boca... gosto de auto-amor!

Thiago disse...

hahahahahaah que isso aqui? Isso de coisa pela metade tambem não é comigo. A não ser que eu seja uma metade e ela a outra, que forma 1! hahaahhahaha

Verônica Cobas disse...

Difícil não se identificar, não é? Tudo o que a gente que a sanidade...mas sem perder a loucura que quebra nossa métrica, instiga, experimenta e até gosta. Minha maturidade até tenta, mas não consegue me impedir as pequenas e deliciosas sandices. Vou só trocar o sorvete por um taça a mais de champanhe. Borbulhas de alegria, prazer, ser feliz de forma descaradamente descompromissada.

Ei..adorei seu comentário sobre o meu post de ontem. bjs. Veronica