quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Identificação

Muitos sentimentos unem as pessoas.
Podemos vê-las unidas pelo amor, pelo trabalho, pela amizade, pelo sangue... e pela dor também.
Vou falar especificamente da dor física. Tenho freqüentado uma clínica de fisioterapia prá curar uma lesão no menisco. Meu problema é "pinto" perto de outros que tenho visto por lá. Mas o que me tem chamado a atenção é a cumplicidade das pessoas que estão lá todos os dias, mais ou menos no mesmo horário, e que acabam por conhecer os problemas umas das outras.
Normalmente os homens são mais fechados (basta lembrar que as mulheres se conhecem numa festa e dois dias depois já estão se chamando de "queridas"), mas o que tenho presenciado nesse ambiente tão "sui generis", é a necessidade que eles também têm de conversar, falar do que lhes aconteceu, perguntar pela melhora das outras pessoas.
Há uma senhorinha com adiantadas sete décadas de vida que "bate o ponto" lá há muito tempo, pelo que pude deduzir. Ela sabe o nome de todas as fisioterapeutas, pergunta prá todo mundo o que lhes aconteceu, e hoje, presenciei uma cena muito engraçada com ela. Ela perguntou a um homem que me parece também freqüentar a clínica há bastante tempo, o porquê de sua filhinha não ter ido com ele nenhum dia nesta semana. Ele respondeu de forma gozadora: -"Não acredito que a senhora não reparou que nesta semana as aulas recomeçaram!"
E ela prontamente respondeu: -"Não acredito que você não reparou que não tenho filhos em idade escolar há muito tempo!" Todas as pessoas que estavam fazendo exercícios mais ou menos doloridos desataram a rir. Naquele momento éramos todos conhecidos sem nos apresentar, parentes por afinidade de tratamento, amigos identificados pela dor e pela esperança de resultados para nossos problemas.

5 comentários:

Anônimo disse...

gostei!! eu inclusive já vivi exatamebte essa experiência quando estava também numa clínica de fisioterapia tratando também o meu joelho!! As pessoas se preocupam se você falta um dia, desejam melhoras, mas sofrem quando isso de fato acontece, pq nesse momento você vai embora... ée super interessante!! Eu inclusive me permito viver isso em todos os lugares em que estou, acho que essa interação com o desconhecido é riquíssima... sou daquelas que sorri para os outros na rua, ri de alguma piada feita entre amigos que estão ao meu lado ou desejo saúde a alguém que espirre aonde os meus ouvidos possam escutar!!!

Anônimo disse...

HEHE...
Existem coisas na vida que são absolutamente impossíveis de se transmitir, né?
Sentimentos, sensações, experiências...
É como dar conselhos aos filhos.... Rsss....,
Inútil.

Como eu poderia sentir
como você sentiu ?

Cada um de nós imagina que entende, à seu próprio modo, mas, a exata cor dessa experiência, o quão profundo é o aroma, a perfeita dosagem de graça do momento, ou mesmo a intensidade da cumplicidade desse grupo, ninguém. Ninguém o sentirá como você.
Só você.

Cada incrível detalhe, cada vivência desde que nascemos, nos faz particular. E esse particular, nos faz viver cada sensação, cada momento, diferente dos outros.

Então, eu, perante um grupo, também ímpar. Conversar com doentes graves e seus familiares, enquanto estava com meu pai no Hospital do Câncer, aguardando a vez da radioterapia; é único. Dezenas de dias encontrando as mesmas resignadas pessoas na sala de espera.
É forte, é “ponteagudo”.
Conversa-se baixo sobre qualquer amenidade, mas ouvimos, de cada um outro, dor, gritos sem som. Impossível descrever ou explicar.

É como transmitir a outra pessoa a sensação de se tornar pai.
O sentimento de rejeição da pessoa amada.
Estar envolvido num povoado parcel a 15 metros de profundidade.
A morte de um filho.
Saltar de pára-quedas.
Fazer amor pela primeira vez.
Virar avô.
Uma viagem astral.

NÃO TEM COMO !!
bJ

Ana Paula Borges Pereira disse...

hehe...Engraçado isso.
Uma tia minha faz fisioterapia na Santa casa de Belo Horizonte todos os dias, ela se parece com essa senhora, conhece todo mundo e vai pra fisioterapia toda feliz, ela adora.
(:

Rosana Tibúrcio disse...

A dor une as pessoas e quando, mesmo na intensidade do sofrimento, elas se abrem, percebe-se uma unissonância nas risadas, na compreensão e no pensar; mesmo que haja dificuldade de entender, a princípio, o que o outro quis dizer, exatamente.
A identificação é maior que qualquer obstáculo. E ela se faz, rapidinho.

Anônimo disse...

Realmente sua forma de escrever é muito gostosa de ser lida. Continue assim.